Autor
do documentário “Garrafas ao mar”, sobre a vida de Joel Silveira, seu parceiro
em alguns livros, o jornalista Geneton Moraes Neto, 40 anos de carreira, faz
algumas considerações sobre a entrevista. À revista Imprensa, o ex-editor do
Jornal da Globo e ex-chefe do escritório da emissora em Londres diz que prefere
ir para a rua entrevistar um flagelado da seca do que ficar em sala de reunião
discutindo pautas.
Ainda
menino escrevia para o suplemento infantil do Diário de Pernambuco e um dia, ao
visitar a redação, teve o impacto olfativo e visual de um jornal de verdade. O
barulho das máquinas, todo mundo fumando, aquilo o marcou muito. Acha que bom
jornalismo é o que incomoda alguém: “O poder não gosta de ser incomodado, e eu
não digo só o poder político, mas o das celebridades também. Precisamos de um
choque de jornalismo. Eu acho essas entrevistas de celebridades um desfile
constrangedor. Entrevista tem de ser um instrumento de prospecção e revelação,
nunca de congratulação”.
Jornalista
não pode deixar que inclinações ideológicas contaminem o trabalho. Geneton diz
ter visto exemplos terríveis: “Tem jornalista que se recusa a entrevistar Fidel
Castro porque ele é um ditador comunista. Outros não entrevistariam o
ex-presidente norte-americano George W. Busch porque ele invadiu o
Iraque”. Disse ter visto jovem jornalista derrubando matéria mesmo antes
de sair para apurar, já começa botando defeito na pauta dizendo que o assunto é
velho, mas segundo ele não existe assunto velho, o que existe é jornalista
desinteressante: “Garanto que o mundo real é dez vezes mais interessante do que
o mundinho dos jornalistas”.