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Vale da Riqueza
Rivaldo Chinem
20/07/2017 13:33:00

Uma das regiões mais pobres, o Vale do Ribeira, situado no sul do Estado de São Paulo, entre os municípios de Iporanga, Eldorado e Barra do Turvo, há muito tempo está fora do noticiário. Ele esconde, porém, riquezas como o Parque Estadual da Caverna do Diabo, com oito quilômetros de extensão. Um pouco à frente, há o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, mais conhecido como Petar: são 35 mil hectares de vales e montanhas cobertos de Mata Atlântica, com cavernas, cachoeiras, trilhas, comunidades tradicionais e quilombolas, sítios arqueológicos e paleontológicos. Os dois parques possuem núcleos de visitação e a maior parte dos passeios só pode ser feita com monitores locais credenciados.

Agora um grupo muito especial poderá atuar nessa monitoria. São moradores da região que concluíram o curso Formação de Condutor Ambiental Local para o Petar e a Caverna do Diabo, numa parceria do Instituto de Geociências da USP com as prefeituras de Iporanga e Apiá, a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, o Parque Aventuras e a Fundação Florestal.

Distantes 300 quilômetros da capital paulista, os parques atraem diversos turistas para conhecer suas ricas paisagens e praticar esportes de aventura. Para trabalhar na condução de visitantes em Unidades de Conservação do Estado de São Paulo, o interessado precisa passar por um curso em estágio na unidade. A atividade de condutor ambiental local se distingue da do guia de turismo, cadastrado pelo Ministério de Turismo, e é restrita às Unidades de Conservação.

 “Muitos moradores não têm essa certificação por falta de formação. Alguns até trabalham como condutores, mas de maneira informal, fora das áreas dos parques”, explica o professor Paulo César Boggiani, coordenador do curso de formação.

Grande problema da região onde estão os parques é a falta de emprego. Para suprir as duas demandas, o poder público e instituições da região se uniram para que a USP organizasse a formação de condutores locais ambientais. Foram abertas 40 vagas para qualquer morador de Iporanga, Apiaí e Eldorado e a procura foi alta, contando 240 inscritos.

As aulas começaram no Núcleo Ouro Grosso do Petar, em Iporanga, que serve de base de apoio para cursos de monitoria ambiental, seminários, reuniões e de alojamento para escolas públicas. O curso teve 43 participantes. O conteúdo foi dividido entre a parte histórica sobre o parque, geologia, paleontologia e hidrologia da região, biologia, meio socioeconômico; e a parte prática, que consistiu em 120 horas de estágio obrigatório.

No total foram 360 horas, com aulas ministradas tanto no Petar quanto no campus da USP na Cidade Universitária, em São Paulo. De acordo com Boggiani, a realização do curso é a melhor maneira de divulgar ciência além dos muros da academia. “É uma experiência fantástica porque você pega a informação, passa para o guia, que vai disseminar para os turistas”.

Além dos conceitos básicos sobre o meio físico, meio biótico e sociocultural local, os alunos receberam conhecimentos científico e cultural que se tem da região, produzidos por pesquisadores e pós-graduandos da USP, Universidade Federal de São Carlos, Instituto Geológico, Arariba, Fundação Florestal e demais universidades e instituições de pesquisa.

Os alunos puderam conhecer a Cidade Universitária, onde receberam aulas de geologia e paleontologia no Instituto de Geociências. Segundo o professor, muitos dos alunos nunca tinham ido a São Paulo e tiveram a oportunidade de vivenciar o ambiente universitário.

Sandra de Oliveira, aluna do curso e moradora de Apiaí, já trabalhava como condutora de maneira informal, nos perímetros do parque, e obtinha renda de outros serviços feitos esporadicamente, os chamados “bicos”. Viu no curso a oportunidade de obter uma renda regular: “Foi uma oportunidade incrível, aprendi muito sobre a minha própria região e, agora, vou poder trabalhar formalmente dentro do parque. Esse curso vai melhorar demais a minha vida. Se o professor oferecesse dez vezes o curso, eu o faria dez vezes porque valeu muito a pena”.

Eduardo Simão também espera incrementar sua renda que, atualmente, vem da oficina de manutenção industrial do avô. O parque recebe um grande volume de excursões em dias úteis e alto número de turistas nos fins de semana, então a demanda por condutores aumenta. O curso vai permitir que ele trabalhe na oficina durante a semana e no parque nos demais dias: “O curso ampliou muito a minha visão sobre outras áreas de estudo e me trouxe muito conhecimento sobre a geologia da região”, disse Eduardo, que já trabalhava com trilhas em cachoeiras e rapel, mas sempre fora do parque.

O professor Boggiani fala com orgulho da melhora que a formação de condutor ambiental local vai proporcionar para a vida dos moradores e também para o ecoturismo da região. “Tem coisa que você só vai aprender com o condutor local, não adianta trazer guia profissional de outro lugar, só quem mora e vivencia o lugar sabe coisas mais específicas. O curso veio para acrescentar nesse conhecimento que eles já tinham e formalizar o trabalho deles”.

Criado por um decreto em 1958 pelo governo do Estado de São Paulo, tornou-se depois da década de 1990 um local para a prática de esportes de aventura com espeleo, rapel, boia cross, cascading e bike, e de algumas atividades como educação ambiental, fotografia e observação da natureza.

No Petar, há várias espécies de aves, como o socó boi-escuro e o gavião-de-penacho; mamíferos de grande porte, como pacas, antas e bugios; e muitas espécies de bromélias, orquídeas e uma das espécies mais importantes da Mata Atlântica, o palmito-juçara.

O que mais atrai os visitantes são as cavernas. Há desde cavernas com enormes rios, com escaladas, mergulhos e rapéis, até cavernas com estruturas turísticas, como escadas, passarelas e pontes, feitas para facilitar o acesso e permitir que esse rico patrimônio seja explorado por todos. Maravilha.


Rivaldo Chinem é autor vários livros, como “Terror Policial” com Tim Lopes (Global), Sentença – Padres e Posseiros do Araguaia” (Paz eTerra), “Imprensa Alternativa – Jornalismo de Oposição e Inovação” (Ática), “Comunicação Corporativa” (Escala com prefácio de Heródoto Barbeiro), “Marketing e Divulgação da Pequena Empresa” (Senac) na 5ª.edição, “Assessoria de Imprensa – como fazer” (Summus) na 3ª. Edição, “Jornalismo de Guerrilha – a imprensa alternativa brasileira da censura à Internet” editora Disal,   Comunicação empresarial – teoria e o dia-a-dia das Assessorias de Comunicação” , editora Horizonte, “Introdução à comunicação empresarial”, editora Saraiva, “Comunicação Corporativa” editora Escala com prefácio de Heródoto Barbeiro ; e "Comunicação empresarial - uma nova visão da empresa moderna" (Discovery Publicações).



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