:: ArtigosQuais os percalços do cinema nacional?Douglas Henrique Antunes Lopes19/06/2019 08:38:00O
cinema é apresentado ao mundo pelos Irmãos Lumière em 1895, num contexto em que
os avanços da ciência e da tecnologia refletiram nas transformações dos meios
de produção e implicaram na I
Revolução Industrial na Europa e Estados Unidos. Graças a
grandes estudiosos da história do cinema, como Paulo Emílio Sales Gomes,
sabemos que os primeiros projetores chegaram ao Rio de Janeiro no final de 1896
e as primeiras filmagens foram realizadas em 1899 — momento em
que o país havia acabado de abolir seu rudimentar sistema
escravocrata de 1888, passando a viver numa república somente a partir de
1889.
A
primeira década do cinema no Brasil sofre com a estagnação, de modo que não
havia muitas salas, pois nem as capitais tinham energia elétrica. As exibições
e a produção somente se iniciam a partir de 1907, quando o Rio de Janeiro passa
a ter energia elétrica industrializada.
Os
anos entre 1908 e 1911 são reconhecidos como a Era de Ouro do Cinema
Nacional — período em que o cinema de ficção ganhava força em relação
ao documental e foram produzidos vários títulos em gêneros como drama e comédia.
Inicialmente, fizeram sucesso roteiros inspirados em crimes, como Os Estranguladores (1907),
que conta a história de dois adolescentes que foram estrangulados no Rio de
Janeiro em 1905.
Em
1930 rompem-se as fronteiras do Rio de Janeiro e São Paulo e cidades como
Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte começam a engajar-se nos processos de
produção de filmes. Nesse período nasceram os primeiros clássicos nacionais.
Tentativas
de industrialização ocorreram na década de 1950, de modo que se
chegou a ver uma indústria estável, com a produção de cerca de 30
filmes anuais. Nesse período fizeram sucesso os enredos pessimistas e
depreciativos da realidade nacional.
O
otimismo e a efervescência cultural, por outro lado, marcaram o início dos anos
1960. A música e a literatura iriam impactar o cinema. Jovens desconhecidos
ganhariam o cenário nacional e se dedicariam ao desenvolvimento do Cinema Novo,
que iria refletir a multiplicidade dos conflitos sociais que se estenderam
pelas entranhas da nossa história.
Emergem
daí títulos como O Pagador
de Promessas (1962) de Anselmo Duarte e Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964)
de Glauber Rocha. O primeiro deles é inspirado na peça teatral de Dias Gomes e
narra a trajetória de um camponês que faz uma promessa num terreiro de
candomblé e deve pagá-la numa igreja católica — o que propicia uma reflexão
sobre o sincretismo presente na cultura brasileira. O segundo nos apresenta o
percurso de um boiadeiro que se rebela contra um coronel e nos apresenta
contextos aparentemente opostos: a fé e o cangaço.
O
otimismo e a frutífera produção da primeira metade da década de 1960 recuariam
diante do Golpe Militar de 1964 e seriam soterrados com o AI-5 em 1968. Depois
dessa conjuntura, talvez seja possível dizer que o nosso cinema não voltaria a
ser tão fértil. No entanto, esse assunto fica para uma próxima oportunidade.
Hollywood
não é o único lugar no mundo em que se pode produzir cinema, somos capazes de
avançar nesse sentido. Não faltam elementos na cultura brasileira para contribuir
com a sétima arte. Basta que façamos os esforços de reconhecermos a nós mesmos.
O filme Bacurau, de
Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, é um exemplo disso e teve seu
mérito reconhecido no Prêmio do Júri em Cannes na edição de 2019.
Douglas Henrique Antunes Lopes é professor do Centro Universitário
Internacional Uninter. Atua nos cursos de Filosofia, Serviço Social e
Pedagogia, além do Curso de Extensão Cineclube Luz, Filosofia e Ação.
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