As crianças do século 21 ainda ficam maravilhadas
quando descobrem o “milagre da transformação”. Um grão de feijão envolto em um
chumaço de algodão molhado, e dentro de um pequeno pote exposto à luz, logo
produz um pé de feijão. Assim também brota a muda do abacateiro: do caroço da
fruta meio mergulhado em um recipiente com água. Na terra, então, as surpresas
se sucedem com cascas de batata, caroços de laranja e de tangerina, um pequeno
dente de alho.
Mais sensíveis aos mistérios da Natureza, como todo
adulto foi um dia, as crianças são os alunos perfeitos para a educação
ambiental que almeja formar cidadãos conscientes e responsáveis para o futuro.
Exemplos
Assim como as crianças fazem na escola, cada vez mais chefs de restaurantes sofisticados dão o
exemplo e cultivam suas próprias hortaliças. Nos programas dedicados à
culinária, a receita se repete. Tem sempre um vasinho à mão, na cozinha
televisiva, com manjericão, hortelã, alecrim. É pegar um raminho da erva fresca
e o prato do dia ganha um toque especial!
Nas datas alusivas ao meio ambiente, muitas empresas
distribuem sementes e mudas em locais públicos e voluntários se armam de enxada
e rastelo para fazer hortas em instituições assistenciais.
No ano passado, um programa do Projeto Rio Cidade
Sustentável, do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS),
em parceria com o governo do Estado e a prefeitura do Rio, levou à população
das comunidades de Chapéu Mangueira e Babilônia o conceito de agricultura
orgânica urbana, com a criação da “horta na laje”.
O propósito de iniciativas como essas é nobre e vem conquistando
adeptos e resultados. No entanto, o caminho para reduzir os impactos ambientais
causados pela alimentação é longo e, muitas vezes, parece uma utopia.
Os defensores mais radicais do meio ambiente condenam
o consumo de alimentos processados, porque a fabricação utiliza muita energia e
gera muito lixo. O pós-consumo não deixa por menos, com restos de comida em
embalagens que fazem o percurso do freezer para o micro-ondas; dele para a
mesa; da mesa para o lixo.
Neste país de maioria urbana, quem se habilita a
trocar a praticidade da comida pronta por uma refeição caseira, depois de um
dia de trabalho fora de casa e do tempo perdido na fila do ônibus e no
congestionamento?
Outro grande empecilho é o hábito adquirido.
Substituir lanches, salgadinhos e pizzas por saladas, legumes e frutas não
parece solução simples, nem satisfatória para a fome mal-acostumada.
Há, ainda, mais uma questão incômoda: lavar e preparar
verduras, legumes e frutas toma tempo e consome muita água.
Biodiversidade à mesa
O Ministério do Meio Ambiente divulgou informações
sobre a primeira reunião do Comitê Nacional de Coordenação do Projeto Conservação
e Uso Sustentável da Biodiversidade para a Melhoria da Nutrição e do Bem-Estar
Humano, realizada em 8 de fevereiro.
O nome é grande, assim como são grandes os desafios do
projeto que tenciona trazer para a mesa do brasileiro produtos originários da
nossa biodiversidade. Segundo declaração de Roberto Cavalcanti, secretário de
Biodiversidade e Florestas do ministério, “90% da flora nativa do país não
fazem parte da alimentação dos brasileiros”.
Representantes de vários ministérios integram o
comitê, no sentido de desenvolver atividades em âmbito nacional e em parceria
com programas federais, como, por exemplo, o de aquisição de alimentos e o de
alimentação escolar.
A iniciativa não é exclusividade nossa. Coordenada
pelo PNUMA, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, e pela FAO, a
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, ela também
deve ocorrer no Quênia, no Sri-Lanka e na Turquia.
Esperamos que essa receita desperte a vontade de
experimentar do brasileiro. Já será um bom começo para uma campanha de mudança
de hábitos.
* Homenagem a Engel
Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.