Se não fossemos assolados por uma quantidade absurda
de informação todos os dias, nós iríamos procurar. É claro que cada qual busca
o que mais lhe interessa. Nossa capacidade de armazenamento é limitada e ainda
não chegamos ao chip de memória que, implantado no corpo, nos proporcionaria a
fonte de todo conhecimento. Quem sabe, um dia? Mas, aí, perderíamos a graça e a
função comum a todos nós que é espalhar notícia.
“Filosofices” à parte, nossa habilidade de comunicar e
multiplicar saber é aparentemente inesgotável. Pena que, numa figura da
linguagem cotidiana, tal dote tenha a forma de diamante bruto.
Refletir e discutir
Acredito que comunicar e multiplicar conhecimento só
faz sentido quando podemos refletir a respeito dos conteúdos e exercitar a
discussão, o diálogo. O que as pessoas hoje chamam de discussão interativa é
isso. Não importa o meio, se virtual ou pessoal, uma boa conversa vale muito e
deveria ser praticada mais amiúde, na escola, no trabalho, em casa. É um jeito bom
de aprender e de se entender.
A Imprensa exerce o papel de fomentar diálogo com
excelentes resultados. Cada carta enviada à Redação, se a favor ou contra uma
notícia, ou por qualquer esclarecimento que o leitor considere necessário,
reflete a interação. Da parte dos mais tímidos, que não gostam de se expor, a
reação também acontece, embora na privacidade. Circula na família, entre amigos
e até num resmungo solitário.
Recortei do noticiário recente um tema que merece
reflexão e reação, porque tem a ver com a realidade de todos nós. Artigo
assinado por pesquisadoras em Educação, e publicado em uma de nossas revistas semanais
de circulação nacional, questiona proposta do governo do Estado de São Paulo
para o ensino na rede pública. Aulas de História, Geografia e Ciências seriam
extintas do primeiro ao terceiro ano do currículo básico. Nessa fase, os alunos
teriam apenas duas matérias: Português e Matemática.
Segundo o que entendi, a grade curricular dos anos
seguintes no ensino básico teriam, então, 10% dessas disciplinas que foram excluídas
no início do curso. Isso me fez pensar que as crianças diriam com mais rapidez
quantos afluentes tem a margem esquerda do Rio Amazonas, mas, talvez não
conseguissem nomeá-los. E a figura de Dom Pedro I, cujos restos mortais estão
sendo estudados agora, justamente para que tenhamos um pouco mais de História?
O que seria dela?
A informação de todo dia
A Educação se faz presente nos meios de comunicação
todos os dias. O desafio é sério, embora muita gente capacitada proponha
soluções para o tema. Não temos mecenas como nos Estados Unidos, mas alguns dos
empresários mais afortunados vêm destinando boa parte de suas doações para a Educação.
Outros formaram grupos e movimentos pró-Educação, estipularam metas e trabalham
em busca de resultados.
Fundações e institutos sociais igualmente mantidos por
empresas realizam importantes programas em suas áreas de atuação, a maioria
deles voltados para professores e pais, além das crianças e adolescentes em
idade escolar.
Algumas iniciativas bem-sucedidas já demonstraram que
a escola de período integral oferece benefícios consistentes e ela vem sendo
adotada em maior número. As próprias empresas jornalísticas doam jornais e
revistas para as escolas, de modo que a notícia também seja veículo de
informação e de debate entre os estudantes e seus familiares.
Boas ideias não faltam. Nem boa vontade de todos
aqueles que trabalham por um modelo de Educação que elimine carências e
estabeleça um padrão de qualidade à altura dos nossos sonhos.
Por que, então, uma proposta como essa, que
aparentemente não tem futuro, não é debatida de maneira mais abrangente com a
sociedade antes de ser posta em prática? E se outros Estados decidirem se
inspirar no exemplo de São Paulo? Deveríamos enviar cartas à Redação?
* Homenagem a Engel
Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.